Psicólogas criam grupo de apoio a vítimas de abusos sexuais
O Grupo de Apoio a Vítimas de Abusos Sexuais (GAMVA) é o primeiro a dar suporte a mulheres vítimas desse problema, em Belo Horizonte. Nesse sentido, um de seus objetivos é realizar encontros semanais entre mulheres que sofreram ou sofrem algum tipo de abuso e que gostariam de ouvir outras histórias ou compartilhar a sua para que, juntas, possam se fortalecer, uma à outra, e perceber que não estão sós.
O grupo foi idealizado pela estudante de psicologia Fernanda Rabello e pela psicóloga Ana Carolina Jordão, ambas vítimas de abusos ao longo da vida. A ideia do grupo surgiu em uma das conversas entre as duas sobre o tema. “Eu fiquei sabendo que existia um grupo de apoio a homens que são processados pela Lei Maria da Penha e fiquei pensando: por que não tem um outro para as mulheres agredidas via crimes previstos pela lei Maria da Penha?”, relata Fernanda. A estudante destaca que a divulgação vem acontecendo através das redes sociais desde maio desse ano, porém poucas pessoas compartilharam ou curtiram a página do grupo no Facebook: “A pessoa tem vergonha ou de dar visibilidade a isso ou de assumir que passou por isso”. Ainda são poucas as mulheres que as procuraram para participar das reuniões. É difícil para muitas admitir o fato e vir pedir ajuda, fator que inibe o crescimento do grupo. “É muito duro para uma mulher que é assediada reconhecer que isso acontece ou esteja acontecendo. Às vezes, nem se dá conta do problema”.
Outro fator inibitório levantado por Ana Carolina, é o quão impactante o caso de abuso é para uma pessoa: “Dependendo do tipo de trauma sofrido, você não consegue falar nem para si mesmo. Muitas nem lembram direito do ocorrido de tão grande que foi a dor, a agressão ao seu eu”. Ela acha que o papel da mídia na denúncia de abusos e na divulgação de trabalhos sociais na área ainda é tímido. Frisa que o movimento feminista vem se expandindo e abrindo discussões para assuntos até agora tratados como tabus, ainda que a maior parte dessas discussões ocorra na internet.
Uma pesquisa do Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgada em março deste ano, aponta que 40% das mulheres declararam ter sido vítimas de assédio sexual no último ano. Através de um espaço de fala e de acolhimento dos casos de abuso, as idealizadoras do grupo oferecem apoio a essas mulheres, dando-lhes força e restabelecendo-lhes a autoestima para que possam refletir sobre sua situação, responsabilizar seus agressores e recomeçar suas vidas de forma digna. É importante que elas “saiam do lugar de vítimas e sejam protagonistas do próprio sofrimento”, afirmam as psicólogas. Ana Carolina ressalta que tem por objetivo, junto à Fernanda, ser vista como uma vítima dessa violação e possível “âncora” de mulheres que querem denunciar esse crime. Essa dupla visão promove maior troca de experiências entre as vítimas, ainda mais quando o conhecimento da psicologia as auxilia na dinâmica desenvolvida. As duas pretendem começar as reuniões na primeira semana de julho, independentemente do número de mulheres participantes. Há informações a respeito disso no Facebook.